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Gaivota-de-patas-amarelas Verónica Neves
Larus michahellis atlantis
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A Gaivota-de-patas-amarelas ou Ganhoa, como também é conhecida nos Açores, é uma das aves marinhas mais fáceis de identificar. Continua...
Verónica Neves – Investigadora
Departamento de Oceanografia e Pescas
Universidade dos Açores
Cantos de Gaivota Áudio
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A Gaivota-de-patas-amarelas ou Ganhoa, como também é conhecida nos Açores, é uma das aves marinhas mais fáceis de identificar. De facto, não há outra que nidifique nos Açores que com ela se possa confundir. Os adultos são brancos com excepção do dorso e das asas que são cinzento-claro e das pontas das asas que têm manchas pretas. As aves adultas têm as patas amarelas e um anel orbital de cor laranja escura e em alguns indivíduos quase vermelha. O bico também é amarelo e possui uma pequena mancha vermelha na ponta da mandíbula inferior que se estende ainda claramente à mandíbula superior. No inverno, os adultos adquirem uma plumagem acastanhada na cabeça. Nos juvenis, a plumagem varia ao longo dos três primeiros anos permitindo assim identificar a idade. Os juvenis do primeiro inverno são acastanhados e têm o bico preto e as patas e tarsos cor-de-rosa seco. Ao contrário dos adultos que têm a cauda completamente branca, os juvenis apresentam uma faixa preta na extremidade da cauda.

A Gaivota-de-patas-amarelas nidifica em todas as ilhas dos Açores e possui uma população nidificante estimada em mais de 4200 casais que se distribuem por 32 diferentes colónias (Neves et al., 2006). A população apenas foi estimada duas vezes, em 1984 e em 2004, tendo-se verificado um aumento de quase 60% no número de casais reprodutores durante esse período. A colónia da Lagoa do Fogo na ilha de São Miguel é a única que se situa no interior de uma ilha, estando todas as outras localizadas em falésias, zonas costeiras ou ilhéus. As maiores colónias localizam-se na Lagoa do Fogo e nos ilhéus do Topo e das Cabras. Estudos recentes indicam que as Gaivotas estão a estender a sua distribuição nos Açores e nos últimos anos a espécie foi também observada a nidificar nos ilhéus da Vila (Santa Maria), Contendas (Terceira) e Vila Franca do Campo (São Miguel) (V Neves, observação pessoal).

Estas aves podem ser observadas nas principais colónias de nidificação ao longo de todo o ano. Começam a construir o ninho em Abril e as posturas de dois a três ovos, castanhos e com manchas escuras, ocorrem de meados de Abril a meados de Maio. As primeiras crias eclodem no início de Maio e tornam-se voadoras a partir de finais de Junho, inícios de Julho.

A Gaivota é uma espécie oportunista e sinantrópica, estando bastante associada ao homem e beneficiando do alimento abundante disponível em lixeiras. Nos regurgitos produzidos pelas Gaivotas é possível encontrar um pouco de tudo, papel, vidro, plástico, etiquetas plásticas de marcar frangos, beatas de cigarro, etc. Na colónia dos Capelinhos na ilha do Faial, um adulto chegou mesmo a regurgitar cogumelos e milho quando estava a ser anilhado. É nas ilhas de maior densidade populacional como São Miguel e Terceira que a proporção de lixo na dieta das Gaivotas é maior, chegando aos 96,8 no caso desta última ilha (Neves et al., 2006). Mas, para além da forte associação aos detritos humanos, as Gaivotas também caçam e pescam muito bem. A sua dieta inclui Pombo-da-rocha, Canários e outros pequenos pássaros e mesmo adultos de Painho e crias de Cagarra. Embora raros, os casos de canibalismo também ocorrem e algumas Gaivotas adultas podem matar e ingerir crias de ninhos vizinhos. As Gaivotas seguem com frequência barcos de pesca e é provável que muitos dos peixes de que se alimentam sejam obtidos dos desperdícios lançados ao mar pelos pescadores. Mas as Gaivotas também são capazes de capturar peixes e mesmo caranguejos e outros crustáceos. Nos Açores, esta espécie possui uma dieta muito diversificada em termos de peixes marinhos que inclui mais de 35 diferentes espécies (Neves et al., 2006).

A Gaivota é única ave marinha residente no arquipélago ao longo de todo o ano, todas as outras realizam migrações, afastando-se mais ou menos dos seus locais de nidificação. É uma espécie bastante cosmopolita e não possui ameaças graves nos Açores. Pelo contrário, constitui ela própria uma ameaça para outras espécies de aves marinhas, nomeadamente para as mais pequenas e sensíveis como os Paínhos e Garajaus. As Gaivotas alimentam-se de Paínhos adultos e de ovos e crias de Garajau e competem com os Garajaus por locais de nidificação.

Verónica Neves – Investigadora
Departamento de Oceanografia e Pescas-Universidade dos Açores

Referência
Neves V. C., N. Murdoch. & R. W. Furness (2006), Population status and diet of the Yellow-legged Gull in the Azores. Arquipélago, Life and Marine Sciences 23A:59-73.