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José Agostinho (1888-1978) José Guilherme Reis Leite
 
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O tenente-coronel José Agostinho, como era conhecido entre os seus conterrâneos Continua...
José Guilherme Reis Leite – Historiador
Nota Biográfica
José Guilherme Reis Leite
in Enciclopédia Açoriana
Palestras no Radio Clube de Angra
José Guilherme Reis Leite Vídeo
Historiador
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O tenente-coronel José Agostinho, como era conhecido entre os seus conterrâneos, tornou-se ao longo de uma vida dedicada à ciência, numa das personalidades mais louvadas e mais admiradas da sua época.

Modesto, contudo consciente da sua superioridade, tinha o dom de se relacionar com toda a gente e sobretudo de encontrar pontos de interesse comum com os seus interlocutores.

Era continuamente procurado por cientistas de visita às ilhas, por intelectuais, por jovens estudantes, por simples curiosos deste ou daquele aspecto da história dos Açores ou por observadores da natureza e a todos recebia e acolhia com grande bonomia.

Gostava, creio eu, de se considerar uma espécie de patrono cultural e sobretudo de ser reconhecido como um mestre mesmo para além das áreas da sua especialidade.

Tendo começado a sua vida como militar da arma de artilharia, onde foi oficial distinto e com actuação destacada na 1ª Guerra Mundial, nunca perdeu o perfil de um oficial das Forças Armadas, apesar de nunca o ter visto fardado.

Abandonou praticamente a vida militar a partir de 1926 para se dedicar de alma e coração à Metereologia, tornando-se uma sumidade nessa área, com reconhecimento internacional, mas isso não o desviou de uma insaciável vontade de compreender o Mundo com um todo. A natureza fascinava-o e nunca se cansou de observar, para a partir daí explicar o seu funcionamento. A sua ilha, a Terceira e os Açores em geral, eram para ele uma espécie de laboratório gigante, onde se movia fascinado. Recorria a uma rede de informadores, como prova a sua epistolografia, para recolha de dados que depois trabalhava no seu modestíssimo gabinete.

Esses observadores, a quem pacientemente ia formando, tornavam-se por sua vez em amigos e quantas vezes confidentes, o que facilitava, é óbvio, os contactos e mantinha as fidelidades.

José Agostinho possuía também uma vocação pedagógica, que o levava a gostar de ensinar e a fazer discípulos. Explicava com simplicidade e linguagem clara os fenómenos naturais que observava e para as suas lições usava todos os meios, quer fosse a conversa pessoal com quem o procurava ou até com um simples cidadão que encontrasse nos seus passeios diários, quer fosse nos jornais e na rádio, onde sempre colaborou com entusiasmo e persistência. No Rádio Clube de Angra, praticamente desde a sua fundação, uma vez por semana, dava uma aula sobre os mais variados temas, com grande êxito porque a sua clareza e a sua clarividência a todos atraia e a todos entusiasmava.

Este invejável poder de comunicação transformava-se numa simbiose entre o cientista e os seus concidadãos, que o tomavam com um guia.

A sua opinião era sempre tida como a mais válida e na generalidade aceite por todos e por isso fazia dele uma espécie de autoridade. Daí invocar-se a sua opinião, o seu saber e a sua orientação praticamente para tudo, desde a ciência, à vida cívica e à vida intelectual, porque José Agostinho era uma personalidade multifacetada e fascinante. Um humanista na verdadeira acepção da palavra.

Angra do Heroísmo, Outubro de 2009.
José Guilherme Reis Leite