As Reservas da Biosfera são áreas de ecossistemas terrestres e/ou marinhos reconhecidas pelo Programa Homem e Biosfera (MaB – Man and Biosphere) da UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura), como de importância Mundial para a conservação da biodiversidade e a promoção do desenvolvimento sustentável e que devem servir como áreas prioritárias para a experimentação e demonstração dessas práticas.
O Programa Homem e Biosfera (MaB) foi criado como resultado da “Conferência sobre a Biosfera” realizada pela UNESCO em Setembro de 1968. O MaB foi lançado em 1971 e é um programa de cooperação científica internacional sobre as interacções entre o Homem e o meio.
Este programa procura os mecanismos dessa convivência em todas as situações bioclimáticas e geográficas da biosfera, procurando compreender as repercussões das acções humanas sobre os ecossistemas mais representativos do planeta.
O objectivo central do Programa Homem e Biosfera é promover o conhecimento, a prática e os valores humanos para implementar as boas relações entre as populações e o meio ambiente.
Este programa desenvolve duas linhas de acções:
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O aprofundamento direccionado das pesquisas científicas, para o melhor conhecimento das causas da tendência de um aumento progressivo da degradação ambiental do planeta;
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A concepção de um inovador instrumento de planeamento, as Reservas da Biosfera, para combater os efeitos dos processos de degradação, promovendo a conservação da natureza e o desenvolvimento sustentável.
As reservas da Biosfera são o principal instrumento do Programa MaB e compõe uma rede Mundial de áreas voltadas para a pesquisa, a conservação do património natural e cultural e a promoção e o desenvolvimento sustentável.
As Reservas da Biosfera devem cumprir de forma integrada três funções:
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Contribuir para a conservação da biodiversidade, incluindo os ecossistemas, espécies e variedades, bem como as paisagens onde se inserem.
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Fomentar o desenvolvimento económico que seja sustentável do ponto de vista sociocultural e ecológico.
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Criar condições logísticas para a realização de projectos demonstrativos, para a produção e expansão do conhecimento e para a educação ambiental, bem como para as pesquisas científicas.
A Reserva da Biosfera da Ilha das Flores compreende toda a área emersa da ilha e uma zona marinha adjacente, cobrindo uma área total de 58.619 hectares, contendo no seu interior valores paisagísticos, geológicos, ambientais e culturais únicos a nível regional, nacional e internacional.
A Reserva da Biosfera da Ilha das Flores apresenta áreas de importância internacional por servirem de local de nidificação a importantes espécies de aves marinhas, muitas delas constantes no Anexo I da Directiva Aves da União Europeia.
As zonas altas e húmidas do Planalto Central contêm a maior turfeira da região, vital para o equilíbrio hídrico da ilha e para as características ribeiras e cascatas que a definem paisagisticamente. As turfeiras altas activas e as turfeiras arborizadas são habitats prioritários (Directiva Habitats), estando estas últimas associadas à maior floresta de Cedro-do-mato (Juniperus brevifolia) dos Açores. Estes habitats, pela sua localização geográfica no Atlântico, são ainda importantes como áreas de descanso e alimentação de aves migradoras.
A Rocha dos Bordões, com a sua rara estrutura prismática de grandes dimensões, é um emblema paisagístico da ilha e do arquipélago, classificado como Monumento Natural.
O litoral da ilha apresenta arribas altas e exibe um vigoroso recorte, complementado por inúmeros ilhéus e penedos localizados na proximidade da costa. As dificuldades de acesso preservaram ao longo dos séculos a importância destes locais como áreas de nidificação de espécies importantes de aves marinhas. Na base das arribas ocorrem aglomerações detríticas denominadas fajãs. O conjunto da Fajãzinha e Fajã Grande, com a imponente escarpa que o delimita do lado Oriental, marcada por grandes quedas de água, nomeadamente a da Ribeira Grande que se despenha num salto de cerca de 300 metros, constitui um dos trechos mais impressionantes e emblemáticos do contrastante litoral florentino.
A ilha das Flores apresenta um número importante de endemismos açorianos, distribuídos por vários grupos, muitos deles com estatuto de protecção.
O importante património natural, paisagístico e cultural, reconhecido internacionalmente, esteve na base da criação, pelo Governo Regional dos Açores, do Parque Natural da ilha das Flores. Este parque vem dar estatuto legal de protecção, através da implementação, a vários níveis, de medidas de gestão em função das figuras de protecção. Vem igualmente promover a preservação e reabilitação de ecossistemas, habitats e espécies e a harmonização da relação humana com a paisagem, bem como o uso sustentável dos recursos naturais.
A elevação da ilha a Reserva da Biosfera vem reforçar a legitimidade das acções promovidas pelo Parque Natural da ilha e projectá-la internacionalmente, encorajando actividades que valorizem a biodiversidade, desde o turismo à exportação de produtos locais. Vem igualmente incentivar projectos de investigação com reflexos na gestão dos ecossistemas, promovendo a cooperação internacional e valorizar os incentivos locais no sentido de um desenvolvimento sustentável que premeie os conhecimentos locais e a ligação entre as actividades humanas e a diversidade biológica.
Marisa Hipólito
Parque Natural das Flores |