Entre as diferentes ameaças à biodiversidade e aos ecossistemas, as atividades humanas são a principal, sendo que face à destruição, degradação ou alteração dos ecossistemas, as espécies extinguem-se, migram para locais mais favoráveis ou se adaptam às novas condições. Estima-se que cerca de metade das espécies vegetais se extingam durante o próximo século, verificando-se que cerca de um quarto de todas as espécies de plantas vasculares já se encontra ameaçado na natureza.
A consciencialização desta realidade levou a que a preservação da biodiversidade vegetal se tornasse uma prioridade mundial, através do estabelecimento de políticas e instrumentos globais, como sejam a ‘Convenção das Nações Unidas sobre a Diversidade Biológica’ e a sua ‘EGCP – Estratégia Global para a Conservação das Plantas’ e a ‘BGCI - Botanical Garden Conservation International’. Foram ainda estabelecidos projetos que contribuíram para alcançar as metas e objetivos definidos na EGCP, como sejam o ‘Consórcio Europeu de Jardins Botânicos’, a ‘ENSCONET – Rede Europeia para a Conservação de Sementes Nativas’, o ‘Millennium Seed Bank’ e o ‘Svalbard Global Seed Vault’.
As ilhas dos arquipélagos da Macaronésia, onde se insere o arquipélago dos Açores, são ilhas ricas em espécies e habitats únicos, ecossistemas e paisagens irrepetíveis, dos quais dependem as comunidades locais para o seu desenvolvimento sustentável. Assim, e acompanhando a tendência moderna de conservação ativa, a Direção Regional do Ambiente, através do Jardim Botânico do Faial (JBF) tem desempenhado, nas últimas décadas, um papel importante na preservação das espécies nativas dos Açores. É nesse contexto que surge em 2003 o Banco de Sementes dos Açores, projeto de cariz regional sediado no JBF, cujo objetivo é a conservação das espécies endémicas e nativas dos Açores, tendo prioridade a conservação das espécies com estatuto de rara e/ou ameaçada.
Um banco de sementes é um depósito seguro que garante a salvaguarda da maioria das espécies vegetais, através de condições laboratoriais controladas, onde as suas sementes são conservadas a temperaturas negativas, depois de devidamente limpas, desidratadas e acondicionadas, prolongando assim a sua longevidade e capacidade germinativa. Este pode ser visto como a última garantia de sobrevivência de uma espécie; o local onde, aconteça o que acontecer na natureza, estão preservadas as sementes de uma espécie que tenha desaparecido.
O funcionamento de uma estrutura deste género está inteiramente dependente da existência de uma equipa de trabalho que aplique de forma rigorosa todas as exigências necessárias. Esta equipa é composta pelo técnico responsável da coleção que gere, define e orienta todo o processo, por técnicos de laboratório, que recebem, limpam e preparam os lotes de sementes e os ensaios de germinação e as equipas de campo, que identificam e caracterizam as populações e aplicam as técnicas de amostragem na recolha de sementes. Cabe ainda ao técnico responsável do banco de sementes o tratamento dos dados fitogeográficos e estatísticos dos ensaios de germinação, constituindo este um trabalho de conservação que culmina na definição de protocolos de germinação de espécies e por conseguinte no conhecimento sobre a biologia das plantas endémicas.
Fruto de um planeamento assente em normas e procedimentos científicos rigorosos e da dinamização de uma campanha de colheita em todas as ilhas dos Açores, foi possível nos primeiros 15 anos de existência conservar 63 taxa, correspondendo a cerca de 500 amostras de sementes.
Cátia Freitas
Secretaria Regional do Ambiente e Ação Climática |