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Um herbário é uma verdadeira enciclopédia de diversidade florística à espera de ser consultada, um arquivo de material histórico e o testemunho mais fiável de floras passadas, um local onde podemos examinar as espécies florísticas de várias partes do mundo, entender variações sofridas por uma dada espécie ao longo do tempo, através da análise comparativa de espécimes colhidos em diferentes períodos históricos, ou ainda examinar ao pormenor espécies já extintas.
O processo de criação de um herbário começa com a colheita do espécime vegetal e o registo de informações importantes, como a data e o local de colheita. Depois, é necessário secar e prensar a planta, que posteriormente será fixa numa folha de cartolina e, devidamente identificada e catalogada, disposta segundo a classificação botânica para posterior consulta. O resultado deste trabalho, muito mais que uma coleção de plantas secas, é um registo das espécies vegetais existentes a dada altura num determinado local. Não sendo a natureza estática, os herbários são arquivos extremamente dinâmicos aos quais podem ser constantemente adicionadas novas informações ou espécies.
A capacidade de representar fielmente espécies florísticas faz dos herbários instrumentos indispensáveis ao estudo da flora. Com efeito, desde há vários séculos que a criação, manutenção e consulta de herbários são práticas comuns entre as principais mentes naturalistas, sendo estas coleções instrumentos de incontestável relevância para a realização de estudos fenológicos, ecológicos, biogeográficos, farmacológicos ou etnobotânicos, entre outros. De facto, encarando as plantas como bens essenciais básicos à nossa espécie (indústria alimentar, farmacêutica, da construção, do mobiliário, da pasta de papel ou perfumaria), rapidamente compreendemos a importância de um herbário com informação atualizada e pormenorizada, que nos permita encontrar e identificar corretamente as espécies vegetais necessárias para determinado fim.
Assim, com o objetivo de estudar, promover, e conservar a flora açoriana, e com a consciência de que uma das maiores problemáticas do séc. XXI a nível mundial é a perda da biodiversidade, foi inaugurado em 2007, pelo Jardim Botânico do Faial, o Herbário Ilídio Botelho Gonçalves. Nesta coleção estão representadas grande parte das espécies endémicas da Flora Açoriana, várias espécies nativas do arquipélago, exemplos de espécies aromáticas e medicinais e, ainda, as principais espécies exóticas invasoras.
Este herbário recebeu o nome em homenagem ao notável Botânico, Engenheiro Silvicultor e Arquiteto Paisagista Ilídio Botelho Gonçalves, cuja contribuição para o estudo da Flora Açoriana é de um valor incontestável, tendo inclusive descoberto uma nova subespécie da família Poaceae, Agrostis reuteri ssp. Botelhoi, no topo da Montanha do Pico. Pelas ilhas açorianas, colheu mais de quatro mil espécimes vegetais que agora se encontram herborizados no Herbário João de Carvalho Vasconcelos (Instituto Superior de Agronomia) e descritos na “Nova Flora de Portugal” e na “Flora Europaea”.
Para além disso, desempenhou as funções de diretor dos Serviços Florestais da Horta entre 1962 e 1973 , assumindo de seguida a direção dos Serviços Florestais de Angra do Heroísmo. Lecionou, também, na Universidade dos Açores, na ilha Terceira, a cadeira de botânica no Curso de Produção Florestal.
João Bettencourt
Secretaria Regional do Ambiente e Ação Climática
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