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Em voo, esta ave de porte pequeno (cerca de 100 gramas) pode ser identificada pela sua cor uniforme castanha escura, excepto as coberturas superiores das asas mais claras, pela grande envergadura das asas (cerca de 70 cm) proporcionalmente ao corpo (o qual está apenas ligeiramente mais comprido do que o de um Melro-comum Turdus merula) e por estas serem estreitas e pontiagudas. As Almas-negras não emitem cantos em voo. Contudo, as vocalizações que emitem dentro dos seus ninhos fazem lembrar um cão de porte pequeno.
A Alma-negra nidifica nas zonas tropicais e sub-tropicais dos três oceanos. No Atlântico, o arquipélago dos Açores constitui o limite norte da sua distribuição, sendo Madeira, as Canárias e as ilhas do Cabo Verde as outras localidades de reprodução da espécie. No Oceano Indico, foi descoberta uma pequena colónia na ilha Redonda (Maurício) durante os anos 90. No Pacífico, as Almas-negras nidificam no hemisfério Norte (Hawaii, ilhas Bonin) e no hemisfério Sul (ilhas Marquesas).
De acordo com as crónicas de Gaspar Frutuoso, a Alma-negra era considerada muito abundante nos Açores durante o século XVI. Agora, o ilhéu da Vila, em Santa Maria, constitui o único sítio de nidificação conhecido para a espécie no arquipélago, albergando cerca de 50 casais reprodutores. A presença da Alma-negra é também conhecida nos ilhéus da Praia e de Baixo, ambos situados ao largo da ilha Graciosa, mas tratam-se de números muito reduzidos e ainda faltam provas de nidificação.
Apesar de não ser considerada ameaçada a nível mundial, a Alma-negra é considerada "Rara" na Europa. Está presente no Anexo I da Directiva Aves e no Anexo II da Convenção de Berna. Algumas áreas do seu habitat estão incluídas no Anexo I da Directiva Habitats. As principais ameaças a esta espécie estão relacionadas com a degradação do seu habitat, seja pela presença de ratos, gatos e outros mamíferos introduzidos, ou pela competição por ninhos com outras espécies de procellariiformes (especialmente o Cagarro Calonectris diomedea) ou com os Pombos-de-rocha Columba livia domestica.
Nos Açores, as Almas-negras regressam a terra a partir do final de Abril e início de Maio. A postura decorre no início de Junho. O ninho pode ser construído em cavidades existentes nas rochas, nos muros, em buracos no solo ou por baixo de pedras. Tal como todas as outras espécies de Procellariiformes, a fêmea põe um ovo único. Ambos os progenitores participam na incubação e na criação. O ovo eclode no final de Julho, e a cria sai do ninho para o mar entre o final de Setembro e o princípio de Outubro.
As Almas-negras alimentam-se principalmente de pequenos peixes (mictofídeos) e lulas e ocasionalmente de pequenos crustáceos. Curiosamente, consomem presas conhecidas por viverem a grandes profundidades. Dado que as Almas-negras não são mergulhadores eficientes (não parecem capazes de ultrapassar 5,3 m de profundidade) é provável que as suas presas sejam capturadas durante as suas migrações verticais, onde sobem até à superfície para se alimentarem de plâncton durante a noite.
Várias observações visuais efectuadas ao largo do Brasil durante o Inverno sugerem que as Almas-negras passam o Inverno no hemisfério Sul. A colocação de geolocalizadores durante o Verão de 2007 (em colaboração com o Doutor Jacob González-Solís da Universidade de Barcelona) permitirá saber mais sobre a migração da espécie (as análises estão actualmente em curso).
Joël Bried e Verónica Neves
Universidade dos Açores – Departamento de Oceanografia e Pescas |
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