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Estapagado Joël Bried
Puffinus puffinus (Brünnich 1764)
O Estapagado, também conhecido como Fura-bucho do Atlântico, apresenta um comprimento de 30-38 cm Continua...
Joël Bried – Biólogo
Departamento de Oceanografia e Pescas
Universidade dos Açores
Joël Bried Vídeo
Biólogo – Universidade dos Açores
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O Estapagado, também conhecido como Fura-bucho do Atlântico, apresenta um comprimento de 30-38 cm, uma envergadura média de 80 cm e um peso médio de 400 g. A sua coloração é preta com as partes inferiores do corpo e das asas brancas. Ao contrário do Frulho Puffinus baroli, as áreas pretas na cabeça chegam abaixo dos olhos. O bico é preto é possui uma forma semelhante ao do Frulho, ou seja, proporcionalmente mais fino do que o bico de Cagarro Calonectris diomedea. As pernas são cor-de-rosa claro com manchas pretas no tarso. Tal como todos os Procellariiformes, trata-se de uma espécie de vida longa, tendo o mais velho indivíduo conhecido ultrapassado os 50 anos de idade.
 
Esta espécie parecia outrora muito abundante no arquipélago. A introdução de mamíferos pelos Portugueses a partir do século XV e a exploração das aves para alimentação e extracção de óleo resultaram na diminuição drástica da população açoriana. As estimativas populacionais mais recentes indicam a existência de 115 a 235 casais reprodutores no arquipélago.
 
A confirmação da nidificação do Estapagado nos Açores é muito recente. Só em 1997 foram detectadas colónias de nidificação nas ilhas das Flores e do Corvo, de tamanho semelhante nas duas ilhas. Contudo, foram observados dois casos isolados de nidificação, o primeiro em São Miguel em 1983 e o outro no ilhéu da Vila, Santa Maria, em 2007.
 
A população mundial de Estapagados tem mais de um milhão de indivíduos, por isso o estatuto de conservação da espécie é de "preocupação menor". O Estapagado nidifica apenas no Atlântico norte, das ilhas Canárias até à Islândia e à costa Leste dos Estados-Unidos. As ilhas britânicas e a Irlanda representam as maiores localidades de nidificação da espécie com cerca de 300000 casais, ou seja, mais de 80% da população europeia. Foi só durante as últimas décadas que o Estapagado colonizou a América do Norte, onde pequenas populações se estableceram na Terra Nova e na costa Leste dos Estados-Unidos.
 
O Estapagado não deve ser muito afectado pela pressão humana, uma vez que os seus ninhos são situados em falésias quase inacessíveis. Tal como para as outras aves marinhas, as principais ameaças nos Açores têm a ver com a presença de mamíferos introduzidos (ratazanas, gatos, furões) e potencialmente de aves de presa extraviadas (por exemplo, os Falcões-peregrinos Falco peregrinus) nas proximidades dos seus locais de nidificação.
 
Os Estapagados regressam aos sítios de nidificação a partir dos meados de Fevereiro. A fêmea põe um único ovo, sem possibilidade de efectuar uma postura de substituição em caso de fracasso. As posturas geralmente decorrem nos meados de Abril. A incubação dura cerca de 53 dias enquanto as crias emancipam-se a partir de setenta dias de idade. Ambos progenitores participam na incubação e na criação. Nos Açores, a maioria das crias saem do ninho em meados de Agosto.
 
Os Estapagados alimentam-se na superfície do mar bem como debaixo da água, uma vez que são mergulhadores eficientes. Não foram efectuados estudos da dieta da espécie nos Açores. No Reino-Unido, os Estapagados consomem sobretudo peixes (sardinhas, sprats e arenques) e ocasionalmente cefalópodes.
 
A migração leva-os para o Atlântico sul, principalmente ao largo das costas do Brasil e da Argentina, e até ao Estreito de Drake. Contudo, alguns indivíduos passam o Inverno ao largo da costa sul-africana. Note-se apenas que um indivíduo anilhado como cria na ilha de Skokholm (País de Gales) em 1960 foi recapturado no Pico em Abril de 1974.

Joël Bried – Biólogo
Departamento de Oceanografia e Pescas-Universidade dos Açores

Foto de Joël Bried