José Agostinho fez estudos gerais em Angra do Heroísmo e Lisboa. Alistou-se como voluntário no Grupo de Artilharia de Guarnição. Foi incorporado em 8.6.1904 e serviu até 31.8.1911, sendo promovido a alferes. Após ter concluído o curso de Artilharia, foi sucessivamente tenente (1913) e capitão para o Estado-Maior da sua arma (1916). Mobilizado, fez parte do Corpo Expedicionário Português em França, para onde embarcou em 21.2.1917, comandando, em 1918, a Bateria n.º 1 de Artilharia de Montanha. Desmobilizado em 1919, atingiu os postos de major em 1920 e tenente-coronel em 1931. Entretanto, concluiu o curso de Engenharia Civil (1924). Ainda antes de partir para França esteve colocado no Faial onde, pela sua cultura, despertou o interesse de Afonso Chaves, passando a ser seu colaborador. Quando regressou da guerra, foi convidado por aquele director do Serviço Meteorológico dos Açores para um lugar no observatório em S. Miguel, iniciando assim o seu trabalho na meteorologia e geofísica, tendo, em 1926, com a morte de Afonso Chaves, sido nomeado director do Serviço Meteorológico dos Açores. Em 1956, com a nova orgânica, passou a desempenhar as funções de chefe de Divisão Regional dos Açores do Serviço Meteorológico Nacional, cargo que ocupou até atingir o limite de idade em 1958.
Foi cumulativamente chefe do serviço meteorológico da Base Aérea n.º 4 das Lajes desde a sua criação até 1946. A sua actividade foi considerada pelas Forças Aliadas da maior utilidade para as missões. Em 1937 foi o delegado oficial do Governo à reunião em Salzburgo da Organização Meteorológica Internacional e, em 1939, delegado de Portugal à Assembleia da União Geodésica e Geofísica Internacional realizada em Washington. Tornou-se um especialista de renome internacional na meteorologia e geofísica, estando em contacto com alguns dos maiores cientistas nacionais e estrangeiros do seu tempo. Era poliglota, o que lhe facilitava muito esses contactos, que manteve até ao fim da vida. Inventou um nefoscópio de reflexão (o nefoscópio José Agostinho) e introduziu aperfeiçoamentos em alguns instrumentos de precisão. Interessou-se pelo estudo de várias áreas do saber como aerologia, magnetismo, climatologia, sismologia, vulcanologia, tectónica, ornitologia, botânica, linguística, literatura, história, geografia, etc.
Em 1928, foi nomeado pela Junta Geral do Distrito de Angra do Heroísmo para a Comissão de Instrução, iniciando a sua carreira administrativa, quase toda ao serviço dessa instituição, tanto na Comissão Executiva, como na Presidência. Foi professor eventual do Liceu de Angra do Heroísmo entre 1923 e 1936, onde leccionou várias disciplinas.
Fundou e foi, por muitos anos, director da Sociedade Afonso Chaves, dirigindo e editando a revista *Açoreana (1934), onde publicou notáveis estudos de climatologia. Em 1942, foi um dos sócios fundadores do Instituto Histórico da Ilha Terceira, liderado até 1955 por Luís Ribeiro. Com a morte deste, assumiu nesse ano a presidência da instituição até 1975, quando passou a presidente honorário. No Boletim do Instituto publicou estudos de história dos descobrimentos portugueses em direcção à América do Norte.
Foi um dos fundadores do Instituto Açoriano de Cultura, em 1956, e colaborador das Semanas de Estudo, tendo escrito um célebre trabalho sobre as dominantes histórico-sociais do povo açoriano, considerado um clássico da *açorianidade. Colaborou na Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira e na Enciclopédia Britânica, nomeadamente com o artigo «Azores», em muitos jornais do arquipélago, como A União, de Angra do Heroísmo, o Correio dos Açores, de Ponta Delgada, e em inúmeras revistas nacionais e estrangeiras. A sua bibliografia é extensa e muito diversificada, reflectindo a grande variedade dos seus interesses. Colaborou intensamente com o Rádio Clube de Angra, principalmente com palestras de divulgação científica, acessíveis ao grande público, sendo por isso um extraordinário divulgador da ciência.
O seu espólio científico e literário, bem como a epistolografia, estão depositados na Biblioteca Pública e Arquivo de Angra, existindo um roteiro de grande utilidade, publicado no vol. XLVI (1988) do Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira.
Condecorado com o grau de Cavaleiro da Ordem Militar da Torre e Espada de Valor, Lealdade e Mérito com palma, Cruz de Guerra da 1.ª classe, Grande Oficial da Ordem Militar de Sant’ Iago da Espada, comendador da Ordem Militar de Avis, oficial da Ordem Militar de Cristo, oficial da Ordem do Império Britânico. O município angrense concedeu-lhe a Medalha de Ouro com colar. O Observatório Meteorológico Nacional, em Angra do Heroísmo, tem o seu nome. Foi durante a maior parte da sua vida uma das grandes referências culturais nos Açores e o mais conhecido açoriano no mundo da ciência internacional.
José Guilherme Reis Leite
in Enciclopédia Açoriana
Obras principais: (1924), Um novo modelo de nefoscópio. O Instituto, Coimbra, Outubro, 71, 10: 459-463. (1927), Francisco Afonso Chaves. Bolletim Della Societá Sismologica Italiana, 27, 2. (1929), Le cyclone du 7-8 Janvier 1929 aux iles Açores. La Metereologie, Paris, V: 271-274. (1930), Aves dos Açores: um estudo de fauna ornitologica açoriana. Correio dos Açores, Ponta Delgada, 20 de Outubro. (1931), The Volcanos of The Azores Islands. Bulletin Volcanologique de l’Association de Volcanologie de l’Union Geodisique et Geophysique Internacional, 8, 27-30. (1938-42), O clima dos Açores. Açoreana, Angra do Heroísmo, I-III. (1942), Quem descobriu os ventos alíseos? O Instituto, Coimbra, 100: 44-46. (1943), Diogo de Teive, povoador da Terceira, descobridor das ilhas das Flores e do Corvo, explorador dos mares do ocidente, não foi o responsável pelo desaparecimento de Jácome de Bruges. Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, Angra do Heroísmo, 1, 1: 50-59. (1944), Sobre a necessidade de se desenvolver os estudos do movimento do mar, em especial da Houle e da Calema. Associação Portuguesa para o Progresso das Ciências, 4.º Congresso, Porto, 3, 2.ª secção. (1954), Notas ornitológicas. Açoreana, Angra do Heroísmo, 5, 2: 184-186. (1960), A actividade vulcânica nos Açores. Açoreana, Angra do Heroísmo, 5, 4: 362-479. (1963), Dominantes histórico-sociais do povo açoriano. In Livro da II Semana de Estudos dos Açores. Angra do Heroísmo, Instituto Açoriano de Cultura: 141-163.
Bibl. Afonso, J. (1985), Bibliografia Geral dos Açores. Angra do Heroísmo, Secretaria Regional de Educação e Cultura, I: 75-102. Azevedo, M. S. (1981), Dados bibliográficos do tenente-coronel José Agostinho. Açoreana, 6, 2: 105-106. Carita, R. (1988), O tenente-coronel José Agostinho. Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, XLVI (dedicado à memória de José Agostinho): 41-47. Belém, V. (1988), Inventário do tenente José Agostinho, Ibid.: 5-40. Leite, J. G. R. (1988), José Agostinho Autonomista, Ibid.: 49-59. Machado, W. (1955), Perfil de um grande intelectual açoriano. Pensamento, supl. de A União, Angra do Heroísmo, 18 de Junho. A União (1958), Angra do Heroísmo, 1 e 3 de Março. Diário Insular (1958), Angra do Heroísmo, 1 de Março. Catálogo da Exposição sobre José Agostinho (1991), Biblioteca Pública de Angra do Heroísmo (policopiado). |