Pode dizer-se que Santa Maria é constituída por duas ilhas unidas numa só. Talvez por isso apresenta uma grande diversidade de paisagens, com a divisão a meio por uma cadeia de picos vulcânicos, que corre de Norte a Sul, culminando no Pico Alto. A metade Ocidental, baixa e quase plana, muito seca e pobre em coberto vegetal, desabrigada e varrida pelos ventos fortes no Inverno, muito quente e de uma cor amarelo-acastanhada no Verão, é substancialmente diferente da parte que se encontra a Leste daquela serra, mais húmida e arborizada, com um relevo movimentado, onde os terrenos são mais férteis e ainda se mantêm as tradicionais práticas agrícolas.
A zona montanhosa constitui o grande repartidor de águas Leste-Oeste da ilha. É na parte central desta cadeia que se formam ravinas mais agrestes, assim como as grandes grotas – perto de Farropo, correndo para Sudoeste; em Água d'Alto, correndo para Noroeste; ou na Ribeira do Salto, a maior de todas, correndo para Leste. Vários outros cursos de água profundamente encaixados atravessam a metade Oriental da ilha, condicionados pelo relevo acidentado e pela altitude, geralmente acima dos 200 metros e com alguns picos com mais de 300 metros de altitude.
Grande parte da costa é constituída por arribas rochosas de considerável altura e valor cénico. Muitas destas arribas e algumas das fajãs ali existentes, ainda hoje são aproveitadas para a cultura da vinha em quartéis ou socalcos com muretes de pedra seca, actualmente em regressão, sendo notável este tipo de intervenção humana nas encostas da Baía de São Lourenço, e nas encostas de Calheta a Maia e Ponta do Castelo, aparentemente ainda mais abandonadas que as de São Lourenço.
As duas principais praias – São Lourenço e Praia Formosa – são de areia clara, por parte da sua alimentação sedimentar ser feita a partir de rochas carbonatadas, ao contrário do que acontece com todas as outras praias do Arquipélago, de areias bastante escuras.
Apesar de ser a ilha mais seca do Arquipélago, tem ainda muitas áreas de pastagem, principalmente nos planaltos ocidentais, onde predominam as pastagens pobres em vastas extensões e nas encostas a Norte; na parte Oriental, muito mais fresca, a maioria dos terrenos está intensamente cultivada, por vezes recorrendo à armação do terreno para enfrentar o declive e os riscos de erosão. São de salientar, pelo enorme valor das paisagens culturais, as encostas das Baías de São Lourenço e da Maia, com as suas vinhas em quartéis, assim como a actual degradação de outras paisagens de vinha, ainda com interesse cultural e uma pequena área de currais em produção, como é o caso dos Anjos.
Rui Monteiro e Sílvia Furtado
Fonte: SRAM/ DROTRH (2005). LIVRO DAS PAISAGENS DOS AÇORES
Contributos para a identificação e caracterização das paisagens dos Açores. Ponta Delgada. |