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Sob a direcção do segundo, a obra foi projectada e realizada por um grupo de mestres e artesãos locais de alta qualidade sem graus académicos mas formados na escola da prática e dos "segredos da arte", passados entre gerações de mestres e discípulos.
A obra durou anos. Foi interrompida em 1958. Estava então levantada a ala Nascente: cerca 970 m de telhados, cobrindo dois pisos. O resultado era já todavia, notável: não apenas no que respeita ao projecto, ao levantamento das estruturas e coberturas, mas às lavouras de pedra exteriores e às decorações interiores de madeira. Só, repita-se, foi usada a mão-de-obra de artistas e artesãos micaelenses vindos de toda a ilha. E estes trabalharam exclusivamente materiais locais. A segunda fase dos trabalhos já promovida pelos descendentes do fundador, decorreu em 72/74 e 84/89.
Toda a estrutura de blocos de pedra basáltica, talhados em grandes paralelepípedos ou cubos nos moldes tradicionais: As duas peças heráldicas monumentais que se encontram no edifício, (fachada Poente e Sala Grande), são da autoria do escultor micaelense Luís Guilherme Teves. As madeiras incluem acácia, criptoméria velha, cedro e muitas aproveitadas de árvores de qualidade, (madeira dura), que os temporais foram fazendo cair no jardim.
Apesar de incompleto, do Palácio sito no Jardim José do Canto se pode dizer que terá sido, por ventura, um dos últimos grandes edifícios rigorosamente paladianos que se construíram no séc. XX; que corresponde a um notável (e, por ventura, derradeiro) exemplo da obra dos artífices e artesãos micaelenses, que nos projectos e trabalhos ali levados a efeito revelaram capacidade de realizar obra erudita, sem dúvida a nível dos melhores do mundo; que o projecto de acabamento (fachada Poente) embora simples, foi concebido com respeito pela traça geral e em harmonia com ela.
O recheio da casa corresponde a um conjunto de peças herdadas pelos proprietários, provenientes de quase todas as antigas famílias micaelenses de que descendem. Assinale-se uma boa colecção de pintura de artistas de S. Miguel desde o séc. XIX até aos dias de hoje, que a família tem vindo a constituir ao longo de várias gerações. Este edifício, geralmente conhecido por "Palácio José do Canto" bem como o próprio Jardim "classificado como de interesse público".
Também dentro do Jardim a nascente e classificado como de interesse concelhio existe um outro solar, construído no séc. XVIII por J.C. Scholtze, e típico da arquitectura da época dita "da laranja". Está em curso a sua recuperação para fins turísticos.
Ao alto da alameda da entrada no jardim (onde existiu uma casa quinhentista dos Carreiros), existe um monumento a José do Canto, inaugurado a 8 de Abril de 1950. Foi seu autor e escultor o micaelense Francisco Xavier Costa.
No extremo sudoeste do Jardim José do Canto encontram-se a Capela ou Ermida de Sant'Ana e as ruínas do Recolhimento que lhe estava anexo, fundados em 1624 por António de Frias, "licenciado, bom letrado e cavaleiro de hábito de Cristo com vinte mil reis de tensa", e sua mulher Beatriz Rodrigues Camelo, dita "a moça". Típico e bem conservado exemplar da arquitectura religiosa micaelense de seiscentos. A Capela está aberta ao culto e pode ser visitada. Do Recolhimento, a poente, só resta a parte da frontaria. O conjunto foi classificado como imóvel de interesse público. O pavilhão (ex-estufa) mantém-se plenamente integrado no jardim e conserva toda a aparência primitiva de estufa "victoriana". Sem dúvida a maior e mais relevante construção desta natureza existente em S. Miguel, senão nos Açores. Encontra-se agora aberto a festas e eventos (capacidade para 150 pessoas sentadas).
Fundação do Jardim José do Canto |
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