A presença de atividade vitivinícola na ilha do Pico, teve o seu início com a chegada dos povoadores à ilha no século XV. Desde essa altura que o Homem do Pico, iniciou atarefa hercúlea de plantar vinha num solo rochoso e aparentemente improdutivo, bem como a construção de um reticulado de muros, que se estendeu praticamente a toda a ilha, com o objetivo de proteger a vinha do vento e do rossio. Construiu-se assim ao longo dos séculos uma paisagem única, com reflexos indeléveis na socio economia da ilha do Pico.
Ciente da sua importância, o Governo Regional dos Açores, propôs a classificação da Paisagem da Cultura da Vinha da Ilha do Pico como área protegida, vindo a ser classificada em 1996, através do decreto legislativo regional n.º 12/96/A, de 27 de junho, como “Paisagem Protegida de Interesse Regional da Cultura da Vinha da Ilha do Pico”, por forma a salvaguardar os valores naturais, paisagísticos e culturais aí existentes, bem como, promover o desenvolvimento sustentado da zona e a qualidade de vida das populações.
Posteriormente, a valia paisagística e histórico-cultural do património natural e edificado desta Paisagem, aliada ao seu carácter único e universal, originou a candidatura das suas áreas mais significativas e bem preservadas ao Comité do Património Mundial da UNESCO, tendo resultado na inscrição da Paisagem da Cultura da Vinha da Ilha do Pico, em julho de 2004, na lista de bens Património Mundial da UNESCO, como Paisagem Cultural, cumprindo com os critérios (iii) e (v).
A Paisagem da Cultura da Vinha da Ilha do Pico – Património Mundial da UNESCO, ocupa uma área total de 987 hectares, envolvida por uma zona tampão com 1 924 hectares. É composta por uma faixa de território que abrange parcialmente as costas Norte e Sul, e a costa Oeste da ilha, tendo como referência emblemática dois sítios - o Lajido da Criação Velha e o Lajido de Santa Luzia, implantados em extensos campos de lava caracterizados por uma extrema riqueza e beleza natural e paisagística. Estes sítios foram classificados por constituírem excelentes representações da arquitetura tradicional ligada à cultura da vinha, do desenho da paisagem e dos elementos naturais.
Associada ainda a esta Paisagem, existem elementos de biodiversidade e de geodiversidade notáveis, com particular destaque para a existência de espécies endémicas de flora e fauna e Geossítios do Geoparque Açores, Geoparque Mundial da UNESCO.
Este bem consiste numa espantosa rede de longos muros de pedra, espaçados entre si, que correm paralelos à costa e penetram em direção ao interior da ilha. Estes muros foram erguidos para proteger do vento e da água do mar as videiras, que são plantadas em milhares de pequenos recintos retangulares (currais), colados uns aos outros. A presença da viticultura manifestou-se através desta extraordinária manta de retalhos de pequenos campos, de casas e quintas do início do século XIX, de ermidas, portinhos e poços de maré. A paisagem modelada pelo homem, de uma beleza extraordinária, é o melhor testemunho que subsiste de uma atividade outrora muito ativa.
Toda a ilha do Pico está repleta de muros, de diversas dimensões e tipologias, até à sua própria aplicação na arquitetura tradicional, embora a sua funcionalidade e expressão esteja enfatizada na Paisagem da Cultura da Vinha do Pico, ou não fossem os muros (a sua quantidade, morfologia, organização e alinhamento) o elemento mais emblemático e marcante desta paisagem, não apenas por si só, mas também pela impressionante quantidade de trabalho, esforço e suor que facilmente se entende e imagina, a partir de homens que tiveram nestes muros o seu garante de sobrevivência.
O cultivo da vinha nesta ilha, de acordo com o método original implementado, implicava plantar os bacelos nas fendas e buracos dos campos de lava, e arrumar a pedra espalhada pelo solo. Com inteligência e arte, o picaroto rapidamente percebeu que o excedente de pedra seria um elemento fundamental que iria garantir que as videiras vingassem neste ambiente rochoso e fustigado pelos ventos fortes e pelo rossio do mar: bastaria para isso construir muros, organizando e amontoando as pedras soltas, limpando o solo, e organizando as grandes propriedades segundo espaços que protegiam as plantas, e criavam um ambiente favorável ao desenvolvimento de uvas de qualidade.
Com esta classificação estabeleceu-se um conjunto de regras através da criação de um plano de ordenamento e de um sistema de incentivos financeiros, garantindo uma gestão racional dos recursos naturais e paisagísticos e o desenvolvimento de ações tendentes à salvaguarda dos mesmos, nomeadamente no que respeita aos aspetos paisagísticos, da geodiversidade e biodiversidade, aliados à salvaguarda do património histórico e tradicional da área, bem como a promoção de uma arquitetura integrada na paisagem.
Ao estimular a reabilitação de áreas abandonadas de vinha, promovendo a sua produção através do sistema tradicional, aumentou-se a área de produção e a qualidade do vinho, apostando na valorização de um produto com características únicas, associando-o à notoriedade do local.
Com esta nova dinâmica potenciou-se também a atividade turística, em particular do turismo da natureza e enoturismo através da criação de unidades de turismo em espaço rural, restauração e de empresas de animação turística.
Assim conseguiu-se inverter a tendência do abandono da Paisagem, transformando-a numa paisagem viva, funcionando como polo dinamizador da economia local.
Parque Natural do Pico |