A ilha Terceira, tal como as restantes ilhas açorianas, instalou-se na vasta área submarina denominada Microplaca dos Açores (Forjaz, 1983) ao longo de várias fases vulcânicas.
Do primeiro grande vulcão da Terceira (com ± 3 milhões de anos) restam a Serra do Cume e a Serra da Ribeirinha, escombros da maior caldeira de colapso (abatimento) dos Açores, a Caldeira dos Cinco Picos ou Caldeira da Serra do Cume (gerada há menos de 100 mil anos).
Seguiu-se o Vulcão da Serra do Morião, a poente dos Cinco Picos, do qual resta a Caldeira do Guilherme Moniz, posteriormente invadida por materiais vulcânicos de episódios mais recentes.
Cronológicamente seguiu-se o Vulcão de Santa Bárbara (há 1 milhão de anos?) que também evoluiu no sentido de no topo se instalarem caldeiras de colapso, temporalmente faseadas (a mais antiga das caldeiras terá cerca de 29 mil anos).
Posteriormente instalou-se o Vulcão do Pico Alto (potencialmente activo, pelo menos desde há cerca de 100 mil anos) situado a norte de Guilherme Moniz.
Há poucos milhares de anos reactivou-se uma estrutura vulcânica, alongada, a Faixa Vulcânica Fissural que se desenvolve ao longo de um eixo central da Terceira, desde a área da Serreta (a NW) às áreas de Porto Judeu-Fonte do Bastardo (a SE) recortando o interior de Guilherme Moniz, o sul de Pico Alto e o troço central da Caldeira da Serra do Cume.
Na citada Faixa Fissural, predominam e proliferam os cones basálticos de bagacina mas existem alguns domos (relevos em cogumelo) traquíticos. O Algar do Carvão, stromboliano, (surgido cerca do ano 1.050) e a erupção histórica (Mistério de 1761) brotaram de fracturas dessa impressionante estrutura.
O Vulcão de Santa Bárbara (que tipifica o contorno elipsoidal da ilha Terceira, a noroeste) é o mais geodiversificado de todos os grandes vulcões terceirenses.
Iniciou-se ao longo de episódios submarinos que depois geraram produtos terrestres, essencialmente basálticos. Porém ao longo dos milénios, Santa Bárbara evoluiu para um vulcanismo mais ácido expressando-se sob a forma de domos e de espessas escoadas traquíticas, episódios plinianos e subplinianos de pedra-pomes e de algumas pequenas massas de ignimbritos. As escoadas e as projecções de obsidianas são, porém, dos materiais vulcânicos mais espectaculares do arquipélago, inserindo, assim, o Vulcão de Santa Bárbara no conjunto de paisagens vulcânicas de maior interesse geoturístico e cultural insular.
Na vertente sul do Vulcão de Santa Bárbara encontram-se identificadas diversas áreas geotérmicas e no sector Serreta-Raminho existem águas mineromedicinais de valor terapêutico. A sismicidade, as erupções submarinas de 1867 e de 1998 e a frescura dos acidentes tectónicos (falhas, estruturas associadas e caldeiras) adicionadas aos factores anteriormente referidos permitem inserir Santa Bárbara na série de vulcões potencialmente activos dos Açores.
Victor Hugo Forjaz – Vulcanólogo
Universidade dos Açores |