O Ilhéu de Baixo ocultado na maior parte da extensão da ilha Graciosa pela imponência da Caldeira da Graciosa, torna-se visível com a aproximação à zona sul da Graciosa onde surge fronteiro ao lugar do Carapacho na freguesia da Luz. Situado a SE da Ilha Graciosa a aproximadamente 700 m da Ponta da Restinga tem 9 ha de área e apresenta uma altitude máxima de 74 m.
É também conhecido localmente por Ilhéu do Carapacho. No passado foi denominado por Ilhéu dos Homiziados, assim chamado pelo que relata Gaspar Frutuoso em “Saudades da Terra” devido a um episódio trágico ocorrido em 1541, onde um grupo de 7 mancebos que se aventuram até ao ilhéu por recreação, ficaram retidos devido à escuridão da noite e ao estado agitado do mar. Dias depois foram jocosamente chamados de homiziados (foragidos à ação da justiça) por um outro grupo de 5 rapazes que foram resgata-los, mas a embarcação destes virou por ação de uma onda, tendo morrido 4 dos jovens.
O Ilhéu de Baixo é na realidade constituído por dois ilhéus de origem basáltica e alguns rochedos emersos e está incluído no geossítio prioritário (Ponta do Carapacho, Ponta da Restinga e Ilhéu de Baixo) integrado no Geoparque Açores que foi admitido em março de 2013 na Rede Europeia de Geoparques. Corresponde a um cone de tufos surtseiano estratificado, muito desmantelado pela atividade erosiva e tectónica. A sua origem é posterior à formação da Graciosa e advêm de uma erupção submarina de natureza basáltica, em águas pouco profundas. É possível observar algumas grutas marinhas de erosão submersas ou semissubmersas.
Devido ao difícil acesso para o Homem e a inexistência de mamíferos (ratos, furões, gatos), este ilhéu é uma importante área para refúgio e nidificação de diversas aves marinhas, comportando uma importante colónia de Garajaus-Comuns, Painhos-da-Madeira, Painhos-de-Monteiro (endemismo Graciosense), Cagarros, Frulhos e existindo também a única colónia de Gaivotas-de-patas-amarelas da ilha.
No ilhéu podemos encontrar diversa flora costeira característica dos habitats de falésia e costas de calhau rolado, da qual se destaca a Azorina vidalii (Vidália), Spergularia azorica, Myosotis maritima (Não-me-esqueças), Euphorbia azorica (Erva-leiteira), Festuca petraea (Bracel-da-rocha).
O Ilhéu de Baixo devido aos seus valores naturais e a sua importância para espécies, habitats e ecossistemas protegidos, integra o Parque Natural da Graciosa, criado pelo Decreto Legislativo Regional n.º 45/2008/A, de 5 de novembro, como Reserva Natural. Este ilhéu é ainda Zona de Proteção Especial (ZPE), Sítio de Importância Comunitária (SIC), Zona Importante para Aves (IBA) e Zona Núcleo da Reserva da Biosfera da Ilha Graciosa.
Carlos Picanço
Parque Natural da Graciosa |