A espécie Paínho-de-Monteiro Oceanodroma monteiroi foi descrita apenas em 2008. Antigamente, era conhecido como Paínho-da-Madeira-de-época-quente Oceanodroma castro. Contudo, o investigador Luís Monteiro mostrou durante o seu doutoramento que as duas formas sazonais de Paínho-da-Madeira nos Açores, para além de se reproduzirem em épocas diferentes, tinham uma morfologia e uma dieta diferentes, e que o teor de mercúrio nas penas e no sangue era também diferente. Além disso, as vocalizações do Paínho-da-Madeira-de-época-quente dos Açores tinham uma sílaba a menos do que as do Paínho-da-Madeira-de-época-fria. Recentes estudos genéticos mostraram que o Paínho-da-Madeira-de-época-quente dos Açores era geneticamente distinto, não só do Paínho-da-Madeira-de-época-fria dos Açores, mas também de todos os outros Paínhos-da-Madeira do Atlântico norte e do Pacífico. A combinação dessas diferenças (morfológicas, ecológicas, vocais e genéticas) levou a considerar que o Paínho-da-Madeira-de-época-quente dos Açores era mesmo uma espécie distinta. Foi chamado Paínho-de-Monteiro Oceanodroma monteiroi em homenagem ao Doutor Luís Monteiro, que morreu num acidente de avião em 1999.
O Paínho-de-Monteiro é a menor ave marinha dos Açores, apresentando um comprimento de apenas 18-20 cm e um peso entre 35 e 60 g. A sua coloração é escura com uma faixa branca no uropígio e a cauda é ligeiramente mais bifurcada do que a cauda do Paínho-da-Madeira. Os seus ovos são mais pequenos do que os desta última espécie também.
O Paínho-de-Monteiro é uma espécie endémica dos Açores. Segundo Gaspar Frutuoso, os paínhos eram muito abundantes no arquipélago durante o século XVI. No entanto, foram intensamente explorados para alimentação e extracção de óleo nessa altura. Actualmente, a população está muito reduzida, com apenas 250-300 casais reprodutores. As colónias de nidificação desta espécie localizam-se em pequenos ilhéus desabitados, situados ao largo da ilha Graciosa (ilhéus de Baixo e da Praia). Nesta ilha, também se suspeita a nidificação no ilhéu da Baleia (Ponta da Barca). Apesar de haver registos de indivíduos nas ilhas das Flores e do Corvo, ainda faltam provas de nidificação no Grupo Ocidental. Os ninhos ocupam, preferencialmente, cavidades rochosas, frequentemente em zonas baixas e planas. A instalação de ninhos artificiais no ilhéu da Praia em 2000 e 2001 permitiu um aumento notável do tamanho populacional da espécie. Actualmente, considera-se que este ilhéu alberga a maior colónia de Paínhos-de-Monteiro do mundo, com ligeiramente mais do que 100 pares.
O estatuto de conservação oficial desta nova espécie ainda não está definido, contudo, devido à sua área de distribuição restringida e ao seu tamanho populacional reduzido, o Paínho-de-Monteiro deveria ser considerado “vulnerável” e ser incluído no Anexo I da Directiva de Aves e no Anexo II da Convenção de Berna.
Esta espécie não deve ser muito afectada pela predação humana, uma vez que os seus ninhos, não só são difíceis de localizar, como é também difícil chegar até à ave ou ao seu ovo. Tal como para as outras aves marinhas, as principais ameaças estão relacionadas com a presença de mamíferos introduzidos (ratazanas, gatos, furões) e de aves de presa (incluindo as espécies indígenas tais como o Bufo-pequeno Asio otus) nas proximidades dos seus locais de nidificação.
Os Paínhos-de-Monteiro são capazes de reproduzir-se a partir de dois anos de idade. Tal como todos os Procellariiformes, as fêmeas põem um ovo único, sem possibilidade de efectuar uma postura de substituição em caso de fracasso. As posturas decorrem entre o final de Abril até início de Julho. A duração da incubação é de cerca de 45 dias e a da criação é de dois meses. Ambos progenitores participam na incubação e na criação. As crias saem do ninho entre meados de Agosto e o início de Outubro.
Os hábitos alimentares dos Paínhos-de-Monteiro distribuem-se por todo o ciclo circadiano. Durante o dia capturam pequenos peixes e lulas. À noite, ingerem organismos mesopelágicos que fazem migrações nocturnas para a superfície (por exemplo, mictofídeos). Nos tempos da baleação eram observados frequentemente a alimentar-se dos desperdícios desta actividade, razão porque também são chamados de Melro-da-baleia. Provavelmente existem importantes diferenças na dieta e na área de pesquisa alimentar dos Paínhos-de-Monteiro e da-Madeira, tendo em vista as diferenças consideráveis que as duas espécies apresentam nos níveis de mercúrio orgânico e nas concentrações de isótopos estáveis de nitrogénio e de carbono nas penas. Tal como se supõe com as outras espécies de paínhos, considerava-se que os Paínhos-de-Monteiro se alimentavam exclusivamente na superfície do mar. Contudo, um estudo recente mostrou que os adultos desta espécie mergulham regularmente durante a época de reprodução, embora as profundidades alcançadas não ultrapassem algumas dezenas de centímetros.
Os resultados das análises de isótopos estáveis de carbono nas penas sugerem que os Paínhos-de-Monteiro permanecem nas águas açorianas durante o ano todo.
Joël Bried – Biólogo
Departamento de Oceanografia e Pescas – Universidade dos Açores
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