Duas populações de paínhos (Ordem Procellariiformes, Família Hydrobatidae) nidificam nos Açores: uma durante o Verão e outra durante o Inverno. Inicialmente, considerava-se que pertenciam a uma só espécie (o Paínho-da-Madeira Oceanodroma castro) apesar de existirem diferenças morfológicas, ecológicas, e nas vocalizações.
Mais recentemente, análises de genética molecular revelaram que estas populações eram mesmo duas espécies distintas. A espécie que nidifica durante o Verão foi chamada Paínho-de-Monteiro O. monteiroi (em homenagem ao Doutor Luís Monteiro, o qual foi o primeiro a reparar nas diferenças entre as duas populações sazonais), enquanto a espécie de Inverno ficou com o nome Paínho-da-Madeira O. castro.
O Paínho-de-Monteiro é endémico dos Açores e muito vulnerável devido ao pequeno tamanho da sua população (entre 250 e 300 casais), enquanto a estimativa do tamanho populacional do Paínho-da-Madeira no arquipélago é de cerca de 900 casais. Para aumentar o tamanho populacional das duas espécies, o Doutor Mark Bolton e os colaboradores dele instalaram 151 ninhos artificiais no ilhéu da Praia em 2000 e 2001. No primeiro ano, 13 casais de Paínho-de-Monteiro e 22 casais de Paínho-da-Madeira utilizaram estes ninhos para se reproduzirem. O número de casais a nidificar dentro dos ninhos artificiais não deixou de aumentar ao longo dos anos seguintes, chegando aos 71 no que concerne ao Paínho-de-Monteiro em 2009 e aos 85 no que concerne ao Paínho-da-Madeira durante o Inverno 2008-2009, ou seja, a 71% e 42%, respectivamente, da população de cada espécie em ninhos naturais no ilhéu. A instalação dos ninhos artificiais tornou-se num êxito tanto mais notável que não só permitiu um aumento do número de casais reprodutores, mas também um aumento da produtividade, sendo o sucesso reprodutor (proporção de ovos que resultam numa cria voadora) geralmente mais elevado nos ninhos artificiais do que nos ninhos naturais.
Os ninhos artificiais e os ninhos naturais acessíveis do ilhéu da Praia são monitorizados cada ano durante o Verão (Paínho-de-Monteiro) bem como durante o Inverno (Paínho-da-Madeira), com captura-marcação (anilhagem) recaptura dos adultos e anilhagem das crias.
Esta monitorização permitirá determinar parâmetros demográficos tais como a idade do primeiro regresso para a colónia, a idade da primeira reprodução, a taxa de sobrevivência dos adultos, a fecundidade a longo prazo, a taxa de fidelidade ao ninho e a taxa de divórcio. Os parâmetros demográficos serão utilizados para modelar a dinâmica populacional de cada espécie no ilhéu da Praia. Para isso, os investigadores do Departamento de Oceanografia e Pescas-Centro do IMAR da Universidade dos Açores criaram uma base de dados onde fica registada a história de vida de cada indivíduo, ano após ano. Aquela base é apenas a segunda no que diz respeito a monitorização de uma colónia artificial de procellariiformes (sendo a primeira a monitorização dos ninhos artificiais instalados para a Freira-das-Bermudas Pterodroma cahow), e a primeira no que diz respeito a uma espécie de paínho.
Para além dos estudos demográficos, já foram realizados estudos sobre o comportamento migratório, estudos de ecologia alimentar (dieta, estratégia de pesquisa alimentar, acumulação de metais pesados) e estudos sobre o investimento parental durante a incubação e a criação. Análises genéticas suplementares estão actualmente a decorrer com os Paínhos-de-Monteiro, afim de determinar a variabilidade genética da população e a estratégia de formação dos casais.
Joël Bried – Biólogo
Departamento de Oceanografia e Pescas – Universidade dos Açores |