(1880), Indagações sobre a complicação das maxilas de alguns hélices naturalizados nos Açores com respeito às das mesmas espécies observadas por Moquin-Tandon em França. A Era Nova, 1: 135-144.
Neste trabalho, o autor mostra que o número e a disposição das caneluras das maxilas que observou em Helix pisana Müller [=Theba pisana Müller], H. lactea Müller [=Otala lactea Müller] e H. aspersa Müller dos Açores são singularmente variáveis e muitas vezes profundamente diferentes das descrições do mesmo órgão feitas por Moquin-Tandon sobre exemplares da Europa Central supostamente da mesma espécie. Mais, a menor espessura da concha também observada, facto aliás, já notado anteriormente por A. Morelet, foi atribuído à falta de calcário no solo e à amenidade do clima que tornavam desnecessária uma protecção ao animal mais resistente. Seguro da sua observação escreveu: «Em todo o caso, a complicação nas espécies dos Açores, com relação às de França, ou a simplificação destas, com relação às primeiras, não são questões anómalas, individuais e principalmente de idade; são modificações fixadas na espécie pelas leis da hereditariedade, pois que são gerais e as vemos, como já dissemos, no mais tenro período da vida».
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(1881), A propósito da distribuição dos moluscos terrestres nos Açores. A Era Nova, 1: 267-283.
Neste trabalho, construído sobre a obra de A. Morelet, Notice sur l'histoire naturelle des Açores, suivie d'une description des mollusques terrestres de cet archipel (Paris, 1860) e usando o processo de curvas também usado por G. Le Bon na obra L'homme et les sociétés (Paris, 1880), são apresentados os resultados do estudo da repartição dos moluscos terrestres nos Açores. São acentuados como factos mais salientes: (a) a distribuição ampla e rica do género Helix e (b) a distribuição quase exclusivamente confinada às três ilhas orientais e à das Flores do género Vitrina que, neste caso, poderia ter origem americana.
Tendo verificado que havia um número elevado de endemismos açóricos relativamente à área das ilhas quando comparado com o número de espécies por área em França e em Inglaterra, e que isso estava em desacordo com a teoria segundo a qual o número de espécies nas ilhas deveria ser menor do que o dos continentes de onde elas eram derivadas, e porque rejeitava a possibilidade de certas espécies terem sido introduzidas só em determinadas ilhas, Furtado recorre à teoria evolucionista e considera que diferentes formas consideradas como espécies são, possivelmente, diferentes graus de modificação de uma mesma espécie.
O autor adianta 5 ordens de factores para explicar as origens da fauna malacológica açoriana, assunto que trata no trabalho «Pequenas contribuições para o estudo da origem das espécies malacológicas terrestres das ilhas dos Açores. Sobre alguns exemplares de Helix aspersa Müller recolhidas nas paragens
elevadas e áridas da ilha de S. Miguel» (A Era Nova (1881), 12: 548-552), concluindo, baseado nas características europeias apresentadas pelas espécies estudadas, que a grande colonização, feita quer pelas aves migradoras quer pelo homem, veio do oriente e se estabeleceu primeiramente em S. Miguel e Santa Maria, e que as outras ilhas foram, na sua maior parte colonizadas a partir destas ilhas.
(1881), Pequenas contribuições para o estudo da origem das espécies malacológicas terrestres das ilhas dos Açores. Sobre alguns exemplares de Helix aspersa Müller recolhidas nas paragens elevadas e áridas da ilha de S. Miguel. A Era Nova, 12: 548-552.
O autor põe em dúvida a dispersão dos gastrópodes durante o período glaciário e atribui a origem das espécies ocorrendo nos Açores a quatro factores: (a) transporte efectuado pelas aves, exemplificando com as espécies do género Physa; (b) introduções feitas pelo homem, ou consciente, como propõe para a espécie Helix aspersa, ou inconsciente, como para o caso de
H. paupercula [= Heterostoma pauperculata Müller]; (c) modificações introduzidas na concha e no equilíbrio geral do organismo, fixadas pela hereditariedade; e (d) formação de híbridos.
(1881), On Viquesnelia atlantica Morelet & Drouët. Annals and Magazine of Natural History , (5), 7, 39: 250-254.
Neste trabalho, é descrita, pela primeira vez, a anatomia desta espécie, nomeadamente a constituição, forma, posição e outras características do aparelho digestivo (saco bucal, boca, maxila, língua, rádula, esófago, estômago, intestino, glândulas salivares, fígado) e do aparelho reprodutor (glândula hermafrodita, glândula albuminípara, oviduto, espermateca, vestíbulo e pénis).
Artigo foi publicado sob a direcção de L. C. Miall, Professor de Biologia do Yorkshire College, que, em nota, cita o trabalho « Indagações sobre a complicação das maxilas de alguns hélices naturalizados nos Açores com respeito às das mesmas espécies observadas por Moquin-Tandon em França».
(1882), Viquesnelia atlantica, Morelet & Drouët. Jornal de Sciencias Mathematicas, Physicas e Naturaes, 32: 305-308.
Versão em língua portuguesa daquela em língua inglesa com o título «On Viquesnelia atlantica Morelet & Drouët», publicada no ano anterior em Annals and Magazine of Natural History, (5), 7, 39: 250-254.
(1882), On a case of complete abortion of the reproductive organs of Vitrina. Annals and Magazine of Natural History, (5), 9, 53: 397-399.
Trata-se de uma pequena nota, também traduzida e anotada por L. C. Miall, que divulga a ocorrência de indivíduos do género Vitrina em que não foram encontrados vestígios de órgão sexuais. O autor pensa que esta anomalia se deve ao facto dos indivíduos serem híbridos de espécies que ele não está em condições de identificar. Todavia, segundo anotação de Miall, tratava-se de um facto notável que se distinguia claramente dos muitos casos de anomalia funcional, real ou suposta, encontrada em muitos híbridos.
(1886), Sur la dénomination de l’Helix torrefacta Lowe, des Canaries. Jornal de Sciencias Mathematicas, Physicas e Naturaes, 42: 86-87.
Neste trabalho é discutido o nome que deve ser atribuído correctamente a H. torrefacta com base nas regras da nomenclatura zoológica.
Segundo H. Crosse, em recensão com o mesmo título,
publicada no Journal de Conchyliologie (1886), 24: 273, «Lowe a décrit, en 1861, sous le nom d’Helix torrefacta, une espèce de l’île Lancerotte; mais comme cette dénomination était déjà employée, depuis 1849, pour une espèce de Jamaïque, du groupe Sagda, l’H. torrefacta, Adams, Wollaston, en 1878, crut devoir la remplacer par celle d’H. Loweana. Malheureusement, il existe déjà une espèce de Madère qui porte, depuis longtemps, le nom d’H. Lowei, Férussac, et, d’ailleurs, d’après les règles généralement adoptées actuellement dans la nomenclature, la modification proposée par Wollaston aurait dû être H. Lowei, et non H. Loweana. Cela ferait donc deux Helix Lowei, et, dans tous les cas, il est impossible de donner à deux espèces du même genre le nom de la même personne. Dans ces circonstances, et pour sortir d’embarras, M. Arruda Furtado propose, pour l’H. torrefacta, Lowe, le nom d’ H. usurpans».
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(1886), Sobre o lugar que devem ocupar nas respectivas famílias os moluscos nus. Jornal de Sciencias Mathematicas, Physicas e Naturaes, 42: 88-94.
O autor que havia sido encarregado de rever as colecções malacológicas do Museu de Lisboa, contrariando a opinião dos antigos conquiologistas que dedicavam grande importância, em matéria de classificação, à maior ou menor perfeição da concha e ao seu maior ou menor desenvolvimento, expõe que os progressos da ciência tendem, de preferência, a considerar como mais perfeito e a pôr, por consequência, no princípio das famílias, procedendo do superior para o inferior, os géneros de concha pouco desenvolvida ou mesmo de concha nula.
Mais, considera ser muitas vezes difícil e algumas vezes mesmo impossível juntar, na mesma família, moluscos nus com outros cuja concha é rudimentar, de desenvolvimento medíocre ou bem desenvolvida, quando é conhecida a organização íntima dos moluscos.
(1886), Catálogo geral das colecções de moluscos e conchas da secção zoológica do Museu de Lisboa. Jornal de Sciencias Mathematicas, Physicas e Naturaes, 43: 105-150.
Trata-se de um inventário das espécies da família Muricidae existentes na “Colecção Antiga” e na “Colecção do Museu Real” depositadas no Museu de Lisboa, com anotações sobre o estado de conservação e de determinação de cada exemplar.
« (1886), Coquilles terrestres et fluviatiles de l'exploration africaine de MM. Capello et Ivens (1884-1885). Journal de Conchyliologie, 34, 2 : 138 – 152.
Este trabalho divulga os primeiros resultados do estudo que o autor fez da colecção de conchas colhidas durante a exploração africana de Hermenegildo Capelo e Roberto Ivens. Regista a lista dos géneros que incluem 39 espécies encontradas das quais 5 eram, provavelmente, novas. Duas receberam o epíteto específico Capelloi (Helicarion (?) Capelloi e Achatina Capelloi), em homenagem ao primeiro daqueles exploradores, e uma outra o epíteto Ivensi (Achatina Ivensi) em homenagem ao segundo daqueles exploradores.
(1887), Sur une nouvelle espèce de Céphalopode appartenant au genre Ommatostrephes. Memórias da Academia Real das Scienceas de Lisboa, 6, 2: 16 pp.
Como o título indica, é a notícia e a descrição de uma espécie nova de cefalópode de que existiam três exemplares no Museu de Lisboa.
Furtado não pôde começar a revisão da colecção malacológica pelos cefalópodes, dada a característica puramente conquiliológica das colecções do Museu, mas a sua atenção foi fixada na grande membrana natatória do terceiro braço de um daqueles exemplares, que havia sido oferecido pelo Príncipe D. Carlos.
Prosseguindo as investigações, que foram motivo para troca de correspondência com malacologistas prestigiados, Furtado constatou que os exemplares do Museu de Lisboa eram uma espécie distinta, a que chamou O. Caroli [=O. bartramii (Le Sueur)], em homenagem àquele Príncipe.
H. Crosse, em recensão publicada no Journal de Conchyliologie, 24: 277 (1886), considera «Ce Mémoire, bien fait et intéressant, est une des dernière œuvres d’un jeune naturaliste d’avenir, qui aurait assurément, plus tard, marqué dans la science, si une mort prématurée n’était venue l’enlever,
récemment, à ses occupations favorites».
(1888), Sur le Bulimus exaratus, Müller. Journal de Conchyliologie, (3), 28: 5 – 10 (1 er janvier).
Furtado apresenta os resultados do seu estudo de três exemplares de B. exaratus recebidos do explorador Francisco Newton, provenientes da ilha de São Tomé. Considerada a dificuldade de atribuir o género Bulimus a partir da concha, Furtado estudou a anatomia dos seus exemplares, que descreve e compara com os de outros autores. Estes resultados sublinham a insuficiência da concha para a classificação sistemática e provam que, neste caso, só a anatomia pode resolver certas dificuldades.
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