Obra Científica de Francisco de Arruda Furtado Página inicial
Francisco de Arruda Furtado nasceu em Ponta Delgada, a 17 de Setembro de 1854. Morreu na Fajã de Baixo, arredores daquela cidade, em 21 de Junho de 1887.

Foi amanuense na Repartição da Fazenda da sua cidade natal mas, quando contava 22 anos de idade foi convidado por José do Canto a trabalhar como escriturário na sua casa comercial, cargo que desempenhou durante 7 anos.

Apaixonado pela história natural desde muito novo, com 19 anos tornou-se colaborador de Carlos Machado, contribuindo para a fundação do Museu de Ponta Delgada (1880) e incluindo-se no grupo de naturalistas açorianos que veio a organizar-se em torno desta instituição e de alguns jardins particulares (Arruda, 1989-90; 1999; Arruda e Albergaria, 2000; Furtado, 1880).

A capacidade de observação e de interpretação dos fenómenos da natureza proporcionou-lhe, neste ambiente, a elaboração de vários projectos de investigação científica com o objectivo de encontrar a origem das espécies biológicas ocorrendo no arquipélago dos Açores. Para tanto, dedicou-se aos moluscos terrestres, por serem considerados mais próprios aos estudos zoogeográficos do que as aranhas, de que se ocupara durante algum tempo, e que julgara, pela sua suposta maior facilidade de transporte, servirem pouco ao esclarecimento daquele objectivo (Arruda, 1994).

Também se dedicou à antropologia para tentar encontrar a origem do povo micaelense, actividade que desenvolveu em paralelo com a divulgação desta ciência (Arruda, 2001).


Francisco de Arruda Furtado

Casa onde morreu Arruda Furtado
Fajã de Baixo, arredores de Ponta Delgada.

A este gosto de Furtado pela antropologia, que o colocou entre os seus pioneiros, em Portugal, não são estranhos os estudos e os conselhos de Gustave Le Bon e a colaboração do seu conterrâneo Francisco de Paula e Oliveira (Arruda, 2002). Todavia, as conclusões a que chegou, não lhe deram projecção, particularmente no âmbito da sociedade intelectual micaelense. Antes, levaram à sua marginalidade. A razão está em que a raça açoriana procurada, uma questão levantada durante a Regeneração, foi mostrada inferior, quando, a existir, deveria ter sido mostrada como diferente daquela de onde provinha (Arruda, 2005).

Com o objectivo de divulgar as espécies animais açorianas enviou amostras de espécies animais e vegetais a diversos especialistas estrangeiros com quem se correspondeu (Arruda, 2002).

A actividade científica de Arruda Furtado aparece também relacionada com a passagem de naturalistas estrangeiros pelos Açores que, desde meados do século XVIII, se dedicavam, principalmente, ao estudo dos animais, das plantas e da geologia. Mais, esse interesse pelo arquipélago aumentou desde que Charles Darwin, em 1859, publicou a sua obra Origin of species by Means of Natural Selection para explicar a evolução dos seres vivos, no prosseguimento da discussão sobre o dinamismo das coisas que vinha sendo sustentada desde a antiguidade clássica. Esse interesse relacionou-se com o facto destas ilhas, nascidas do mar, poderem suportar formas animais e vegetais de transição entre as regiões Paleártica e Neártica.

Tanto no meio restrito do grupo de naturalistas de Ponta Delgada, como no âmbito mais vasto dos naturalistas portugueses do seu tempo, Arruda Furtado foi um seguidor da teoria de Darwin. Assim, distinguia-se daqueles que integravam o ambiente intelectual, em Portugal e nos Açores, dominado pela classificação zoológica, sem interesse pela problemática do Evolucionismo. Esta circunstância marcaria a sua actividade no Museu de Lisboa, para onde se transferiu em 1885, e onde a sua actividade científica passou a estar envolvida com a organização de colecções museológicas e com a descrição de espécies (Furtado, 1884).

Furtado foi membro honorário da Philosophical Literary Society de Leeds e da Sociedade de Geografia de Lisboa. Proposto para membro da Academia Real das Ciências de Lisboa não chegou a ser nomeado por entretanto ter falecido.

Publicou algumas poucas dezenas de artigos científicos e de divulgação nos Açores, em Lisboa, em Paris e em Londres.

Rua homenageando Francisco de Arruda Furtado em Ponta Delgada

Bibliografia

Arruda, L. M. (1989-90) [1992], Sobre os estudos científico-naturais de Arruda Furtado. Boletim do Núcleo Cultural da Horta, 9: 69-76.

Arruda, L. M. (1994), Comentários e notas sobre obra científica de Arruda Furtado. Professor Germano da Fonseca Sacarrão. Lisboa, Museu Bocage: 353-376.

Arruda, L. M. (1999), Pensamento científico de Arruda Furtado no contemporâneo dos Açores. Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, 57: 435-448.

Arruda, L. M. e Albergaria, I. S. (2000), Ernesto do Canto entre os naturalistas açorianos do século XIX. Arquipélago · História, (2), 4, 1: 121-130.

Arruda, L. M. (2001), Escalas nos Açores, povoamentos e evolucionismo vistos por Arruda Furtado. In: Portos, Escalas e Ilhéus no relacionamento entre o ocidente e o oriente. Lisboa, Ponta Delgada, Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses e Universidade dos Açores, 2: 427-437.

Arruda, L. M. (2002), Correspondência científica de Francisco de Arruda Furtado. Introdução, levantamento e estudo de Luís M. Arruda. Ponta Delgada, Instituto Cultural de Ponta Delgada.

Arruda, L. M. (2005), Evolucionismo e biogeografia na obra científica de Francisco de Arruda Furtado e o seu contributo para o conhecimento científico das ilhas dos Açores. In : “As ilhas e a ciência. História da ciência e das técnicas”, actas do I Seminário Internacional. Funchal, Centro de Estudos de História do Atlântico, Colecção História da Ciência e da Técnica, 1: 265-275.

Furtado, F. A. (1880), Variedades – Ciência e Natureza. Era Nova, 1: 83 – 88.

Furtado, F. A. (1884), Revue Scientifique – Les Açores au point de vue scientifique. Gazette française du Portugal, nº 2, 2 de Dezembro.